30 de setembro de 2004

Hot Clube e José Duarte galardoados com Medalha de Mérito Cultural

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Por ocasião das comemorações do Dia Mundial da Música, a 1 de Outubro, o Ministério da Cultura, representado pela Secretária de Estado das Artes e Espectáculos, Teresa Caeiro, distingue amanhã o Hot Club de Portugal e José Duarte, entre outros, com a Medalha de Mérito Cultural.

A cerimónia decorre no Mosteiro de S. Bento da Vitória, no Porto, às 21h30. De assinalar que em 2004 a UNESCO, através do Conselho Internacional da Música, celebra este dia com o tema "Jazz Meets the World: A Tribute to Jazz in Education".

O Hot Clube de Portugal desenvolve a sua actividade ininterruptamente desde 1948. Além da actividade tradicional, o HCP tem a funcionar desde há 14 anos uma escola de música. Estabeleceu um protocolo com a Duke University para a realização do Study Abroad Program.

José Duarte divulga o jazz desde 1958. É de sua autoria, apresentação e realização, o programa de rádio 'Cinco Minutos de Jazz'. Conferencista, é autor de vários livros sobre jazz. Membro da IAJE (International Association for Jazz Education), organizou e promoveu espectáculos e exposições, é membro da Direcção da 'International Jazz Federation' (UNESCO).

Fonte: Comunicado do Ministério da Cultura.

28 de setembro de 2004

10 000 visitantes!

«Jazz no País do Improviso!» atingiu hoje o emblemático total de 10 000 visitantes, totalizados desde a sua abertura em 11 de Setembro de 2003.

A todos os leitores deste blog, um muito obrigado!

27 de setembro de 2004

Toquem os sines a rebate!

Um dos mais emblemtáticos festivais de jazz organizados em Portugal está em vias de extinção!

Não, não é felizmente o Estoril Jazz nem o Seixal Jazz.

Mas é um festival que tem características únicas e o seu fim, a concretizar-se, será certamente um péssimo sinal.

Não podemos para já adiantar mais pois tudo está a ser decidido hoje numa reunião entre as várias partes envolvidas.

Mas vão preparando os sinos porque «Jazz no País do Improviso!» não vai deixar morrer este festival que tantas alegrias já nos deu. Havemos de os tocar a rebate e chamar toda a comunidade do jazz à discussão!

:)

Valeu, Laura!

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«Jazz no País do Improviso!» viu, ouviu e gostou de Laura Fygi ao vivo no Casino da Póvoa de Varzim.

Confirma-se que a cantora, além de ter uma excelente voz é ainda uma «natural born entertainer», "criada" para pisar os palcos e espalhar alegria e boa disposição.

Com um concerto estruturado e pensado ao pormenor, Fygi sabe interagir com o público e escolher acertadamente o repertório, cantando correctamente em português, inglês, francês e castelhano.

De facto, só não ficámos mais impressionados porque este concerto foi decalcado do gravado em DVD no North Sea Jazz Festival.

É evidente que este é um espectáculo muito ensaiado e com pouca margem para a improvisação ou para o jazz puro e duro. Smooth jazz? Sim, talvez, mas ouve-se tão bem... e ela é tão charmosa...

Porém quem pense que Laura é apenas presença e beleza deveria ouvi-la ao vivo a cantar acompanhada apenas pelo piano ou pela guitarra e perceber que ali mora uma enorme capacidade de entrega da alma aos standards e uma voz e sensibilidade capaz de extrair deles uma interpretação genuína e sentida.

Gostámos particularmente dos temas "That old feeling", "Don't make my brown eyes blue", "Guess who I saw today", "For me formidable", "Les feuilles mortes", "Diamond's are a girls's best friend" e "Rhythm is our business".

Valeu, Laura, ficámos fans!

Já agora, uma palavra para a organização do concerto e para a simpatia com que fomos recebidos pelo Casino da Póvoa de Varzim.

Ah, e se puderem não deixem de visitar a Póvoa. Vale a pena e é exemplar em termos de conservação do património e de arranjo paisagístico. Ficámos fascinados com os modernos candeeiros do Passeio Alegre e com a intervenção arquitectónica na marginal. Ao que apurámos, foi tudo feito pelos arquitectos da câmara municipal. Quem disse que santos da casa não fazem milagres?

24 de setembro de 2004

O jazz é...

... «Um mar de beiços grossos de negros fazendo barulho em latão, madeira e lata».

Era esta a definição do jazz dada por um curioso dicionário português de citações editado em Lisboa, em 1939.

No comments.

Até amanhã Laura

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«Jazz no País do Improviso!» vai estar presente amanhã no Salão D'ouro do Casino da Póvoa para ver e ouvir Laura Fygi, que canta acompanhada por Hans Vroomans (piano), Jan Menu (saxe), Maarten van der Grinten (guitarra), Koos Serierse (baixo), Marcel Serierse (tambores) e Mirjam van Dam (percussão).

Laura Fygi não é uma das maiores vozes do jazz, mas é uma cantora que sabe o que faz e que sobretudo sabe entreter e criar um espectáculo envolvente e comunicativo. Embora as suas influências estejam em Ella Fitzgerald e noutras grandes cantoras, o seu canto é muito mais smooth e ligeiro, ainda que com o fluir do tempo tenha vindo a adquirir maior maturidade jazzística.

Natual da Holanda, Fygi iniciou a sua carreira musical no grupo feminino Centerfold, o mais popular neste país. A sua carreira a solo teve início em 1991, com «Introducing», um álbum de jazz que se tornou um sucesso imediato e ganhou o Edison Award (equivalente ao Grammy Holandês). O reconhecimento internacional por este trabalho permitiu-lhe fazer parte das tabelas do American Billboard Jazz.

Da discografia de Fygi fazem parte:

Introducing Laura Fygi (1991)
Bewitched (1992)
The Lady Wants to Know (1994)
Turn Out The Lamplight (1995)
The Laura Fygi Collection (1996)
Watch What Happens (1997)
Dream Our Dream (1997)
Laura Fygi Live (1998)
The Latin Touch (2000)
Change (2001)
Live at Ronnie Scott's (2003)

Quem não puder estar presente pode sempre ver e ouvir Fygi num excelente DVD recentemente lançado entre nós.

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23 de setembro de 2004

Trio de Melo canta em Oeiras

Acabado agora de chegar do concerto protagonizado pelo trio de Filipe Melo no Ciclo Internacional de Jazz, a decorrer em Oeiras, no Teatro Municipal Eunice Muñoz, aqui ficam algumas impressões.

Primeiro, o trio pratica um jazz baseado nos standards e fá-lo com um grande à vontade e conhecimento de causa. É nítida a empatia entre os músicos, que só é possível pelo circuito de festivais que existe neste momento em Portugal, o qual permite que os músicos ganhem experiência de palco.

Segundo, todos os músicos dominam os respectivos instrumentos, o que permite arriscar mais e entrar em temas mais complexos ritmicamente ou harmonicamente. É nítido o crescimento técnico de Bruno Santos, na guitarra, e é já inegável a qualidade de Filipe Melo no piano. Quanto a Bernardo Moreira, continua seguro como sempre no seu contrabaixo.

Terceiro (e muito importante), os músicos tocam com prazer e alegria e comunicam esse estado de espírito ao público. Esta sempre foi, aliás, uma característica dos jazzmen, só desvirtuada por músicos como Miles Davis ou Wynton Marsalis.

Com tudo isto, o concerto saldou-se num enorme sucesso, levando o trio a ser chamado ruidosamente à sala para dois encores.

Quanto a nós, falta a este trio, porventura, uma voz (masculina ou feminina), para poder voar mais alto e chegar a audiências mais amplas.

Não que o trio não valha por si só, antes pelo contrário! Mas o mercado funciona assim e muitos dos grandes pianistas internacionais de jazz não teriam obtido o reconhecimento que obtiveram se não tivessem tocado com cantoras como Sarah Vaughan ou Ella Fitzgerald.

22 de setembro de 2004

XV Estoril Jazz (1): album

«Jazz no País do Improviso!» começa hoje a divulgar um conjunto de reportagens fotográficas que realizou por ocasião do XV Estoril Jazz / XXIII Jazz Num Dia de Verão.

Haverá posts dedicados às fotos dos vários grupos em palco (1), aos bastidores (2), à produção (3), aos eventos especiais (4) e às várias figuras do jazz nacional e internacional que passaram pela plateia do festival (5).

Comecemos pelos concertos, a parte visível de qualquer festival de música.

KENNY GARRETT

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Joao Moreira dos Santos

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Joao Moreira dos Santos

BRANFORD MARSALIS

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Joao Moreira dos Santos

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Joao Moreira dos Santos


CLAYTON HAMILTON JAZZ ORCHESTRA

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Joao Moreira dos Santos

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JAZZ AT PALMELA PARK

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Joao Moreira dos Santos

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Joao Moreira dos Santos

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Joao Moreira dos Santos


21 de setembro de 2004

Duke Ellington na Igreja

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«Jazz no País do Improviso!» assistiu ontem ao concerto protagonizado pelo saxofonista Hakan Lewin e pelo organista Johannes Landgren, espectáculo baseado na música sacra composta por Duke Ellington.

Numa pequena igreja da baixa lisboeta, praticamente desconhecida da maioria dos portugueses, ouviu-se, certamente pela primeira vez, não só a obra de Duke Ellington, mas também as nítidas influências do jazz e dos blues.

Se ao princípio a combinação do típico órgão tubular de igreja com o timbre do saxofone parecia não resultar a 100%, a verdade é que passada essa primeira sensação inicial o concerto acabou por resultar muito bem. Dizemos isto ressalvando, porém, que nem sempre foi fácil perceber que se estava ali a evocar a música de Duke Ellington, já que esta era muitas vezes composta a pensar em intérpretes específicos e perde algum do seu brilho sem as vozes originais.

O repertório anunciado foi cumprido e quanto a nós os melhores momentos ocorreram em «Freedom» e também no encore, com o clássico «Nobody knows the trouble I've seen», ambos a puxar pela marcação do tempo com o pé...

De resto, o concerto decorreu sob o signo da paz e do combate ao ódio entre os homens, o que nos pareceu uma forma muito apropriada de contextualizar a obra de Duke Ellington.

20 de setembro de 2004

Duke Ellington hoje às 21h30

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A música sacra composta por Duke Ellington estará esta noite em evidência no 7º Festival Internacional de Órgão de Lisboa.

O espectáculo tem lugar às 21h30, na Igreja de São Luís dos Franceses, em Lisboa, e é protagonizado pelo saxofonista Hakan Lewin e pelo organista Johannes Landgren, com o seguinte reperório:

I Like the Sunrise
Is God a three letter word for love
Heaven
Freedom
Almighty God
T.G.T.T. (Too good to title)
Come Sunday
Somebody cares
Lotus blossom
Solitude

"I think of myself as a messenger boy," escreveu em tempos Duke Ellington, "one who tries to bring messages to people, not people who have never heard of God, but those who were raised more or less with the guidance of the Church."

Foi, aliás, com música sacra que Ellington conquistou, em 1966, um Grammy, atribuído a "In the Beginning, God", parte dos três concertos sacros que compôs.

Para quem não sabe, a Igreja de São Luís dos Franceses fica situada no Beco de São Luís da Pena 34 (junto ao Coliseu dos Recreios - estação de metro "Restauradores" ou "Rossio"):

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Festival de Jazz do Porto

Arranca já a 24 de Setembro o Festival de Jazz do Porto, com um dos melhores cartazes de sempre.

As estrelas deste ano são a cantora Dee Dee Bridgewater (a não perder) e Lee Konitz, além de Jacky Terrasoson e Greg Osby.

Todos os concertos decorrem no Teatro Rivoli.

24 Setembro - Bernardo Sassetti - Piano Solo

2 Outubro - Andy Bey Quartet

14 Outubro - DEP

Hugo Danim - bateria
Eduardo Silva - baixo
Peixe - guitarra

Nuno Ferreira Quinteto
1.ª audição absoluta da obra encomendada pelo 14.º Festival de Jazz do Porto

Nuno Ferreira - guitarra
John Ellis - saxofone tenor
Jesse Chandler - piano, orgão Hammond, teclados
Bernardo Moreira - contrabaixo
Bill Campbell - bateria

15 Outubro - Lee Konitz Nonet

Lee Konitz - compositor, saxofone alto
Ohad Talmor - saxofone tenor, clarinete, arranjador
Russ Johnson - trompete
Jacob Garchik - trombone
Dimos Goudaroulis - violoncello
Denis Lee - clarinete baixo
Bob Bowen - baixo
Ben Monder - guitarra
Billy Hart - bateria

16 Outubro - Dee Dee Bridgewater
?J?ai deux amours?

Dee Dee dedica-se agora à canção francesa, nascendo assim o espectáculo e o disco ?J?ai deux amours?.

Dee Dee Bridgewater - voz
Louis Winsberg ou Patrick Manouguian - guitarra
Minino Garay - bateria e percussões
Ira Coleman - contrabaixo
Marc Berthoumieux - acordeão

03 Novembro - Jacky Terrasson Trio

05 Novembro - Greg Osby Five

Greg Osby - saxofone alto
Jason Palmer - trompete
Megumi Yonezawa - piano
Matt Brewer - baixo
Tommy Crane - bateria

19 de setembro de 2004

Ella Fitzgerald no Herman Sic

A companhia Lisboa Ballett Contemporâneo interpretou hoje no programa Herman Sic um bailado ao som da música de Ella Fiztgerald, que «Jazz no País do Improviso!» reconheceu de imediato.

Parabéns a esta companhia pelo bom gosto na escolha da música.

Jazz em Oeiras

Do Rui Fernandes, leitor do "Jazz no País do Improviso!" recebemos informação sobre o Ciclo Internacional de Jazz, que se realiza nos próximos dias 23 a 25 de Setembro, no Teatro Eunice Muñoz, em Oeiras.

Aqui fica, pois, a programação:

- Dia 22 - Século de Jazz (22h00)

Nanã Sousa Dias (saxofone), Gonçalo Marques (trompete), Bruno Pedroso (bateria), Vasco Agostinho (guitarra), Filipe Melo (piano), Nuno Correia (contrabaixo), Joana Rios e Vera Vilhena (vozes)

- Dia 23 - Trio de Filipe Melo (22h00)

Filipe Melo (piano), Bruno Santos (guitarra), Bernardo Moreira (contrabaixo)

- Dia 24 - Sylvain Luc Trio (22h00)

Sylvain Luc (guitarra), Jean-Marc Jafet (contrabaixo), André Ceccarelli (bateria)

- Dia 25 - Ivan Paduart Trio (22h00)

Preços: Plateia: 10 euros (diário); 30 euros (ciclo 4 espectáculos); balcão: 8 euros; 24 euros

Mais informações em: http://lazer.publico.pt/artigo.asp?id=9200&m=1

A última residência terrena de Coltrane

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«Jazz no País do Improviso!» leva hoje os seus leitores a visitar a última morada que o lendário saxofonista John Coltrane teve no planeta Terra.

Entre 1964 e 1967 (ano em que morreu), Coltrane viveu com a sua família numa casa situada em Dix Hills, a 30 milhas de Nova Iorque. Este foi o local de inspiração para algumas das suas mais célebres composições, incluindo «A Love Supreme», e para a gravacão de alguns dos seus discos, num pequeno estúdio situado na cave.


A entrada na propriedade fazia-se por um grande portão branco trabalhado e através de uma rua asfaltada ao fundo da qual costumava estar estacionado o Jaguar de Coltrane.

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Aqui temos uma fotografia da entrada principal da casa

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Entrando dentro de casa... encontrava-se então a sala de estar

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Era nesta sala que se encontrava o piano, que é hoje propriedade de um particular residente em Miami. Repare-se no saxofone soprano de Coltrane, em cima do piano.

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Na cave situava-se o estúdio, sendo que os intrumentos que aí estavam colocados ainda hoje são propriedade da família Coltrane.

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Aqui temos uma fotografia da mulher de Coltrane, Alice, na sala de gravações do estúdio.

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O famoso Jaguar de Coltrane ficava, claro, na garagem... embora o seu paradeiro seja actualmente desconhecido.

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Todas estas fotografias são da autoria do fotógrafo japonês Akiyoshi Miyashita, realizada nos anos 60 para um artigo do "Swing Journal".

Infelizmente a casa está actualmente sob a ameaça do camartelo e o seu aspecto é bem diferente do que tinha quando era habitada pelos Coltrane. É este o cenário em 2004...

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Mas, felizmente, por outro lado, Steve Fulgoni, historiador da Half Hollow Historical Association de Dix Hills, tem vindo a lutar para salvar a casa de Coltrane, reunindo fundos para a sua aquisição ao acutal proprietário por cerca de 1 milhão de USD. Para já a referida casa está em vias de ser considerado um marco histórico da comunidade, o que a colocará em princípio a salvo do camartelo...

Mais informação em: www.dixhills.com

18 de setembro de 2004

Por falar em Miles Davis...

Anda aí à venda no mercado, principalmente nas lojas FNAC, um dos mais importantes albuns da vasta discografia do mago do trompete e que é também um dos mais importantes da história do jazz, ao ter vindo romper com o be-bop e propondo novas sonoridades através dos arranjos de Gil Evans e de Gerry Mulligan, as quais viriam a criar a escola do Cool Jazz.

Referimo-nos, claro, a «Bith of The Cool».

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Miles Davis explica na sua autobiografia como chegou a este novo som cool: «The Birth of The Cool album came from some of the sessions we did trying to sound like Claude Thornhill's band. We wanted that sound, but the difference was that we wanted it as small as possible».

Afinal acabou por ser uma grande obra!

Este disco, de acordo com a EMI Portugal, foi o disco de Miles que mais vendeu em Portugal até à data, totalizando cerca de 5000 unidades ao longo dos anos.

Na FNAC encontra-se à venda a versão remasterizada, por "apenas" cerca de 9.00 euros, mais coisa menos coisa.

17 de setembro de 2004

Miles em saldos na Worten

A Worten está a vender num pack conjunto dois dos mais emblemáticos discos de Miles Davis e duas obras primas do jazz.

Por menos de 12 euros é possível levar para casa, duma assentada, «'Round About Midnight» e «Milestones».

É indispensável ouvir nestes registos a forma como o pianista Red Garland recita em "Straight No Chaser", de forma harmonizada, o solo original que Miles Davis gravara com Charlie Parker em "Now's the Time" (editora Savoy)

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e também o excelente arranjo do tema "'Round Midnight" e o solo de John Coltrane que se lhe segue.

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Já agora em «Milestones», ouça-se o excelente tema "Billy Boy», excepcionalmente interpretado por Red Garland.

Ná há que hesitar!

14 de setembro de 2004

A lenda Peterson ao vivo e a cores

Acaba de ser editado no mercado português o DVD do concerto de Oscar Peterson em Viena de Áustria, também disponível em CD.

«Jazz No País do Improviso!» já ouviu e ficou impressionado com o som global do conjunto e com o swing que Peterson, apesar da idade avançada e do estado de saúde, ainda consegue imprimir ao piano.

Também a guitarra de Ulf Wakenius está ao seu melhor.

Que grande som!

11 de setembro de 2004

E tudo o Jazz vende...

A palavra jazz serve para vender tudo, desde máquinas de café a perfumes e automóveis.

Aqui ficam alguns exemplos avulsos:

Máquinas de café...

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Automóveis...

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Perfumes...

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Sofás...

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Curiosamente, nos festivais a tendência é para sob a palavra jazz se aprensentar tudo menos... jazz!

Se calhar esgotou-se nos produtos...

Love My Jazz

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No dia em que celebra o seu 1.º aniversário, «Jazz No País do Improviso!» escolheu para divulgar uma obra interesante sobre jazz.

Trata-se de um livro publicado por um grande fotógrafo - Giuseppe Pino - com excelentes fotografias dos melhores jazzmen, captadas a partir dos anos 60: Louis Amstrong, Chet Baker, Count Basie, Dee Dee Bridgewater, Chick Corea, Miles Davis, Duke Ellington, Bill Evans, Ella Fitzgerald, Stan Getz, Keith Jarrett, Nina Simone, Clark Terry, Don Cherr.

Ao todo, estão documentadas três gerações de músicos de jazz.

Além disso, o livro vem acompanhado de 4 CDs com temas celebrizados pelos músicos retratados.

É uma boa porta de entrada no jazz.

FNAC (27.00 euros)

1 ano de «Jazz no País do Improviso!»

Porquê um Blog sobre Jazz?

Bem, a ideia nasceu em Setembro de 2003, fruto do tédio típico do Verão e da vontade de partilhar a investigação que então me encontrava a iniciar com vista à edição de uma obra sobre a história do jazz em Portugal.

Além disso, um Blog poderia também ser uma excelente ferramenta para obter informação para este livro, chegando a pessoas que de outra forma não teriam conhecimento da minha investigação, mas que possuíam importantes informações sobre a evolução do jazz entre nós.

Passado um ano, mais de 340 posts e quase 10 000 visitantes, o balanço é extraordinariamente positivo e supera todas e quaisquer expectativas que pudesse ter. Não só foi possível partilhar informação, como o Blog acabou por entrar por terrenos inesperados, emergindo pouco a pouco como fórum de discussão de novos discos, de concertos, de eventos sobre o jazz e mesmo de crítica à situação política do País.

Aliás, «Jazz No País do Improviso!» transporta desde logo na sua designação uma visão crítica da lusitana forma de estar na vida. Se o Jazz vive do improviso, também a nossa nação tem vivido do improviso, do precário, do temporário, do provisório, sobretudo, do provisório, esse mesmo que se eterniza por décadas e décadas, por vezes sem que ninguém saiba exactamente porquê.

A única diferença é que no Jazz o improviso é desejável porque permite aos músicos a livre expressão dos seus sentimentos e da sua musicalidade... Já num país, o improviso como leitmotiv redunda no caos, na imprevisibilidade, na desigualdade, na injustiça e até mesmo no questionamento da Democracia.

Com uma tal designação, era óbvio, ainda que ao início eu próprio o desconhecesse, que mais cedo ao mais tarde estes temas teriam de surgir. E ainda bem que assim foi porque a cultura não pode viver isolada do mundo que a rodeia e antes de ser um melómano sou, sobretudo, um cidadão atento e que quer para o seu país um futuro de desenvolvimento e verdade.

Sendo este, no entanto, um blog essencialmente de jazz, quando «Jazz no País do Improviso!» se debruçou sobre a política e os políticos nunca manifestou porém qualquer opção partidária, respeitando um dever de isenção que, não sendo característica dos blogs (plantados desde o início no terreno da opinião), entendemos ser essencial por uma questão de credibilidade e respeito pelos leitores.

Agradeço a todos os leitores que têm o hábito de leitura deste blog e aos que simplesmente por aqui passam circunstancialmente. Sem audiência um blog torna-se num género de diário e não faz sentido existir senão em formato papel, guardado algures na privacidade de uma gaveta.

João Moreira dos Santos

PS: Estou a considerar a edição em livro destes 12 meses, sobretudo atendendo às entrevistas publicadas e às reflexões sobre o passado, presente e futuro do jazz. Haverá interesse numa tal obra?

10 de setembro de 2004

Jazz 25 de Abril

Houve jazz em Portugal na véspera do 25 de Abril [24 de Abril, para os nerds! :)]

E o jazz conseguiu mesmo ser notícia no próprio dia 25 de Abril, por entre páginas cravadas de revolução e liberdade. Lá encontrou o seu espaço.

Os standards são uma bíblia de emoções e sentimentos

Tá dito!

Mas só os lê quem usa o coração e os ouvidos.

7 de setembro de 2004

Kenny Garrett em discurso directo

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«Jazz No País do Improviso!» entrevistou Kenny Garrett quando da sua passagem pelo Estoril Jazz 2004. Um diálogo a três, já que contou ainda com o jornalista Serge Baudot, da revista «Jazz Hot». Publicamos hoje alguns excertos desta entrevista.

- Como e quando escolheu o saxofone?

- O saxofone é que me escolheu a mim. O meu pai tocava saxofone-tenor e eu adorava o cheiro da mala do saxofone. Não era tanto o que ele tocava, mas o cheiro da mala. Depois comecei a ganhar curiosidade pelo instrumento e ele comprou-me o meu primeiro saxofone.

- Era um saxofone alto?

- Na verdade o primeiro saxofone que tive foi um saxofone clássico, um saxofone-tenor. Depois um dia o meu pai chegou a casa com um saxofone alto e o alto é definitivamente o que eu toco.

- O seu pai ensinou-o a tocar ou frequentou uma escola?

- Fui para uma escola. Ele ensinou-me a escala de Sol e depois enviou-me para a escola.

- Quem é que admirava no início?

- A minha primeira inspiração veio de Hank Crawford e de Cannonball Adderley, o Cannonball Adderley comercial, música comercial com a qual me pudesse identifcar.

- Não estava interessado em Jackie McClean?

- Não naquela época. Só mais tarde. No início era qualquer tipo de música que eu pudesse entender, o que naquela época era o 'Mercy, Mercy, Mercy', do Cannonball Adderley.

- E tentava imitá-lo?

- Nunca tentei imitar ninguém. Costumava tocar com discos e havia pessoas de quem gostava, mas não os imitava porque eu não sabia que era suposto fazê-lo. É por isso que não os imitava. Mas costumava ouvir os discos e se havia alguma coisa de que gostava tocava.

- Frequentou uma boa escola de música?

- Não.

- Então teve apenas um professor?

- Tive apenas um bom professor chamado Bill Higgins. A escola que frequentei não tinha um programa de música. Na verdade ele criou o programa com o meu pai e queria que eu tocasse na banda. Era esse tipo de escola.

- Quando é que aprendeu a tocar o piano? Foi recentemente?

- O piano sempre esteve lá... Quando estava no liceu eu costumava tocar acordes para depois tocar por cima o que queria tocar no saxofone. Penso que à medida que comecei a ouvir que músicos como Dizzy Gillespie tocavam piano e Freddie Hubbard também, comecei a pensar em tocar.

- E também o ajuda a compôr...

- Sim, definitivamente uso-o para compôr. Mas recentemente fiz um concerto de piano a solo.

- Não fez um disco de piano solo?

- Não, fiz apenas um concerto.

- Mas poderá vir a fazê-lo?

- Há muita gente me encoraja, muitos pianistas já me disseram que eu sou um pianista. No princípio pensei que estavam apenas a ser simpáticos, mas depois vários pianistas começaram a telefonar-me para ter lições. Por isso pensei que eles terão ouvido qualquer coisa em mim. Mas como sabe eu não estudei piano no sentido tradicional...

- Neste momento é muito importante para si compôr?

- Sempre foi muito importante para mim criar. Há esta coisa interessante na capacidade de compôr musica, esta inspiração. Às vezes sento-me e ouço alguma coisa na televisão que acho interessante e pergunto-me por que razão aquela música me faz sentir algo? Por isso vou até ao piano e tento descobrir em que tom está escrita e a partir daí constrúo sons e crio música. É fantástico escrever o que se pensa e é também um veículo para criar um som Kenny Garrett. Coltrane tinha a sua própria música, Duke Ellington tinha a sua própria música, Miles Davis tinha a sua própria música e eu queria ter a minha própria música, queria criar temas e um som.

- Estabelece uma diferença entre a composição e a improvisação?

- Por vezes utilizo a composição como um veículo para a minha improvisação. É como que um campus onde se encontram acordes específicos com cujo som gosto de tocar. Noutros casos é apenas uma canção que não tem nada a ver com improvisação, é apenas música. É diferente.

- Qual é a sua concepção do jazz?

- Para mim é tudo música. Algumas pessoas dizem que o jazz é apenas a tradição. Sempre evoluímos a partir de diferentes géneros no jazz e é isso que eu faço. Toco aquilo que eu chamo jazz, seja beat, seja funk ou hip-hop. É música. Para mim a música é música.

- Mas o jazz é diferente das outras músicas....

- Sim, é diferente mas evoluíu a partir das outras músicas. Os ingredientes e a fundação estão lá. Claro que o jazz é mais complexo do que a música pop, mas a pop também é música. O que importa é o que a música me diz e o que me faz sentir. Muitas pessoas perguntam-me se, por eu tocar tantos estilos diferentes, não estou a alienar o jazz... Não. Foi por isso que toquei com o Miles Davis, foi por isso que toquei com o Sting, por causa da música, porque era um desafio. Foi por isso que toquei com a Jersey Symphony, música clássica, porque era um desafio; não por ser jazz mas porque era música.

- Sei que aprendeu japonês. Tem a ver com um interesse pelo Japão ou pela sua música?

- Bem, se eu não fosse músico queria ter sido um linguista. Adoro línguas. Acho que foi na verdade uma forma de voltar a isso. Decidi aprender japonês porque ouvi alguém no avião a dizer que os americanos são preguiçosos e eu disse: «Uau! Os americanos são preguiçosos? Eu não sou preguiçoso!». Por isso decidi aprender japonês, como um desafio. Mais recentemente tenho estado a aprender coreano e françês. Onde quer que esteja tento aprender um pouco, por que é línguagem, é comunicação. Abre imensos canais de comunicação. Ajuda-me a ser uma melhor pessoa o facto de tentar aprender, mesmo que não seja fluente. Ao aprender a linguagem aprendo a cultura das pessoas.

- E tem interesse na música japonesa?

- Isso veio com a linguagem. À medida que comecei a aprender a língua, comecei a saber mais da cultura e da música e a gostar das melodias e a harmonizá-las de forma diferente. Aconteceu o mesmo com o coreano e com o francês. Eu gosto de melodias. Desde que seja uma boa melodia...

- As experiências com Sting e outros músicos, como é que aconteceram?

- Achei que eram um desafio. Para mim a música é geralmente um desafio. Repare no que eu fiz com a New Jersey Simphony... é um desafio, não é algo que eu faça todos os dias. Foi um desafio que me fez desenvolver o meu nível artístico. É isso que eu tento fazer. No caso do rock'n'roll foi um desafio ver se conseguia colocar a minha voz naquela música e improvisar ou simplesmente entender aquela música. Não é algo que faça todos os dias, mas algo que tento fazer como desafio.

- Como é que encontrou a sua própria voz, o seu próprio som?

- Creio que foi algo em que sempre pensei porque o meu pai, sempre que estava a ouvir rádio, perguntava-me quem era o artista e eu não sabia e então ele dizia-me que toda a gente tinha uma voz. Por isso penso que de forma subconsciente pensava nisso até que um dia percebi que tinha uma voz própria.

- Ainda é possível um jovem saxofonista encontrar o seu próprio som?

- Vai exigir muito trabalho mas será possível. Penso que todas as pessoas têm o seu som, só que algumas pessoas encontram-no mais cedo e outras precisam de uma vida inteira.

- Ainda é possível encontrar novas tendências no jazz, como tivemos o bop, o hard-bop, o funk...?

- As pessoas estão à procura disso, mas penso que isso acontece naturalmente.

- Pensa que uma evolução ainda é possível no jazz ou estamos no fim do processo?

- Não sou a pessoa mais indicada para responder a essa pergunta mas espero que algo aconteça rapidamente para que os jornalistas deixem de me fazer essa pergunta! (risos) O ponto importante é que se alguma coisa acontecer as pessoas não vão dar por isso porque as pessoas estão à espera de algo drástico. Provavelmente apenas vamos ter pessoas a fazer pequenas coisas e no fim teremos o quadro completo. Outra coisa a considerar é que se não houver essa oportunidade para continuar a criar essas pequenas coisas então não sei se poderemos evoluir. Se os músicos jovens tiverem de continuar a ir ao passado (e têm de ir) mas não conseguirem avançar, então não podemos esperar que a música evolua.

- Como é que o marketing está a afectar o jazz?

- Sempre senti que se houvesse um melhor marketing no jazz, se se desse às pessoas a oportunidade de o ouvir, era provável que algumas pessoas o escolhessem. Se o jazz fosse tocado na MTV, teria mais exposição junto das pessoas. O problema no jazz é que não chega às pessoas, mas apenas a uma pequena comunidade que o percebe. Por vezes as pessoas que vêm assistir aos meus concertos dizem-me que foi a primeira vez que assistiram a um concerto de jazz e eu digo «esta é a primeira vez que veio a um concerto de música», porque nós tocamos música. Claro que tocamos jazz, mas tocamos sobretudo música. É uma questão de educação.

- Mas podemos chegar ao ponto em que as editoras é que definirão o repertório em função do que vende?

- Penso que temos de encontrar uma forma de ter o marketing sem desrespeitar a liberdade artística. Penso que temos de mudar a percepção do jazz de uma música de clube para uma música que pode ser tocada perante 80 000 pessoas. Eu posso tocar para 80 000 pessoas em vez de tocar para 8 000.

- Sinto que há muito trabalho positivo de marketing nas capas dos seus CD's. Quem trata isso?

- É minha escolha, não da editora. Talvez fosse diferente se fossem eles [editora] a fazê-lo. Nos meus CD's sou eu que escolho a forma de os apresentar.

- Tem liberdade?

- Tenho.

- O que acha de festivais que se denominam festivais de jazz mas depois têm os Deep Purple e outros grupos de rock?

- São empresários e estão a pensar na forma de cativar os jovens, trazendo a música de que eles gostam. Não sei se deveria chamar jazz; deveria chamar-se festival de música. Se fôr um festival de música então está bem. A questão é que nós no jazz precisamos de exposição. Ponham-nos a nós no mesmo palco dessas bandas em vez de nos porem em pequenos palcos só porque acham que apenas um grupo limitado de pessoas nos quer ouvir. Nós tocamos música e podemos chegar a algumas das mesmas pessoas que vêem a MTV e o VH1. Ponham-nos no mesmo palco que o Sting e não digam que é jazz e então veremos o que acontece.

- Tocou com o Miles Davis em Abril de 1991 em Lisboa e ele morreu em Setembro. Como é que ele estava fisicamente antes de morrer?

- Foi estranho porque às vezes ele estava fraco e depois no fim estava em boa forma.

- A morte dele foi um choque?

- Sim, definitivamente um choque!

- Não havia nada que indicasse o seu estado?

- Bem, ele estava sempre a entrar e sair do hospital. Supostamente ele foi fazer um check-up...

- Era difícil trabalhar com ele?

- Para mim não era difícil porque o Miles deu-me a liberdade de ser eu mesmo, mas com a secção rítmica era difícil...

- Qual foi o melhor disco que fez com ele?

- O Amandla foi um bom disco. Outro foi o Dingo, que gravámos para a banda sonora de uum filme.

- Ainda há muito material gravado ao vivo por publicar?

- Não sei quem decide publicar ou não, mas há um disco recente.

- Qual foi a coisa mais importante que aprendeu com ele?

- A ser apenas eu e continuar a tentar melhorar. Uma vez ele disse-me que eu devia tocar como um principiante. Nessa altura não percebi o que ele queria dizer, mas uma vez estava a tocar com a minha própria banda e então de repente entendi. Basicamente, é manter a música fresca, jovem. Essa foi uma das coisas mais importantes.

Village Vanguard: 70 anos a "morder" o melhor jazz da Big Apple

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O Village Vanguard, a mais antiga catedral do jazz em NYC, completa este ano 70 primaveras. Verdadeira testemunha da história do jazz, assistiu ao swing, presenciou o be-bop, foi palco para o free e para a fusão e ainda hoje lá tocam os mais promissores talentos das novas gerações. Desde 1957 foram gravados no clube mais de 100 discos ao vivo e mesmo com a morte do seu fundador o Vanguard não perdeu a alma nem o ritmo: «Open everyday» continua a ser o lema da casa.

Situado numa pequena cave da Sétima Avenida, no bairro de Greenwich Village, o Vanguard é um dos mais prestigiados clubes de jazz de Nova Iorque e, seguramente, o mais antigo ainda em actividade. Nat Hentoff, reputado crítico de jazz, explica este fenómeno no prefácio do livro que Max Gordon escreveu nos anos oitenta sobre o Village Vanguard: «Os clubes com maior longevidade são aqueles a que vamos mesmo quando não sabemos quem está a tocar lá nessa noite. (...) Ou seja, confiamos que quem quer que seja que gere o clube tenha contratado um artista com classe. Pelo que tenho visto, esse tipo de fé num clube é mais evidente no Village Vanguard do que em qualquer outro que eu jamais tenha conhecido».

De facto, ao longo dos anos o clube tem-se distinguido por uma programação de qualidade, tornando-se uma referência para os habitantes da cidade e para os turistas e melómanos do jazz que diariamente aí entram por um enorme toldo vermelho que se estende pelo passeio até à estrada. E, pelo menos no Vanguard, a tradição parece continuar a ser o que sempre foi, aí tocando regularmente alguns dos jazzmen mais consagrados e dos novos talentos, desde Cedar Walton a Mark Turner.

Max Gordon, o Vanguard e um português

O pai do Vanguard nada tinha, porém, a ver com o jazz e, muito menos, com o seu berço, os Estados Unidos da América. Por estranho que pareça, ou talvez não, o fundador do Village Vanguard é oriundo da Lituânia. Foi aí, perto de Vilna, que nasceu, em 1903, Max Gordon, cinco anos antes da sua família emigrar para os E.U.A., atraída pelo sonho americano.

Criado em Portland, no Oregon, no seio de uma família com parcos recursos económicos, o jovem Gordon teve de estudar e trabalhar em simultâneo, vendendo jornais nas ruas desta cidade até ao dia em que concluiu os seus estudos de literatura no Reed College. Impelido pelos pais a frequentar o curso de direito, Gordon chegou à "cidade que nunca dorme" corria o ano de 1926, mas seis semanas depois o curso era já uma miragem e os seus dias eram passados em Greenwich Village, onde assentou arraiais.

Até à fundação do Vanguard, Gordon acumulou vários empregos, incluindo a revisão ortográfica de cartas numa loja e a redacção de artigos para uma pequena revista de negócios. A entrada no universo dos clubes aconteceria em 1932, em resultado de um encontro ocasional com uma empregada de um clube nova iorquino que, insatisfeita com o seu emprego, lhe propôs a abertura conjunta de um clube. Assim nascia o Fair, em plena lei seca, encerrado pouco tempo depois na sequência de uma acusação forjada de venda de álcool.

Falido e desempregado, Gordon não estava porém derrotado e aguardava apenas a oportunidade de voltar a ter o seu próprio clube. Em Charles Street, Gordon encontrou a cave ideal para o clube que tinha em mente criar, obtendo de um amigo o financiamento necessário para tal empreendimento. Curiosamente, seria este amigo a baptizar o futuro clube: «Village Vanguard».

O clube abriu oficialmente as portas no dia 26 de Fevereiro de 1934, equipado com mobílias e instrumentos comprados a pessoas endividadas em consequência da forte crise económica da época. As mesas e as cadeiras foram improvisadas com barris provenientes de um antigo restaurante que tinha como chefe de cozinha o português Johnny, o qual Gordon contrataria desde logo para tomar conta da cozinha do Village Vanguard.

O jazz estava, porém, ainda ausente e a estreia artística do clube ocorreu com a declamação voluntária de poemas por parte de alguns célebres poetas presentes na inauguração: Maxwell Bodenheim, John Rose Gildea, Joseph Ferdinand Gould. Este "espectáculo" valeu a Gordon a ameaça de encerramento pelos tribunais, sob a acusação de apresentar entretenimento sem a devida licença... Tal não aconteceria, mas a mudança para novas instalações tornava-se agora imperiosa pela necessidade de situar o clube num espaço com duas saídas e longe de igrejas, sinagogas e escolas.

Gordon encontrou esse espaço no número 178 da Sétima Avenida, numa cave onde funcionara um antigo speakeay; o mesmo espaço onde o Village Vanguard se mantém desde 1935 até à actualidade. Durante vários anos, o clube serviu sobretudo de tertúlia de poetas, mais ou menos residentes, mas em 1939, Gordon alcançou grande sucesso com os Revuers - grupo musical formado, entre outros, por Judy Holliday e Betty Comden e com Leonard Bernstein no piano - e passou a ter na audiência celebridades como Fred Astaire.

Gigantes do jazz no Vanguard

O jazz chegou ao Village Vanguard em 1941, através dos blues. Com a fama alcançada pelos Revuers e a sua consequente partida para outros palcos, Gordon necessitava desesperadamente de novas atracções para animar as noites do clube. É neste contexto que um amigo lhe sugere uns tais de Leadbelly e Josh White, a que se somaria Pearl Bailey, em 1943.

Quanto ao jazz começou a aparecer sob a forma de jam-sessions, nos anos quarenta, e com a presença de músicos como Dizzy Gillespie, Art Tatum, Errol Garner, Nat King Cole, Earl Hines ou Dinah Washington, adquiriu maior dimensão no final dos anos cinquenta, com o início das gravações ao vivo e a contratação dos grandes jazzmen da época, e ganhou realmente expressão a partir dos anos sessenta, como revela Max Gordon no seu livro: «Foi bom ter passado para o jazz no Vanguard. Admito que foi difícil no princípio dos anos sessenta. Os miúdos que ouviam música estavam numa embriaguez de rock'n'roll e eu não tinha experiência no jazz. Depois, no final dos anos sessenta e início dos anos setenta, as coisas começaram a acontecer. Comecei a encontrar músicos de jazz, músicos novatos com projectos de futuro: Chick Corea, Herbie Hancock, Keith Jarrett e outros».

Vários foram os gigantes do jazz que tocaram e gravaram no Village Vanguard e dos quais Max Gordon guardou alguns episódios curiosos. Um deles foi Sonny Rollins, que tocou no clube durante dez anos seguidos, quatro vezes por ano, todos os anos. Voltou mais tarde, em 1976, tocou o primeiro set de forma "arrasadora" e já não apareceu para o segundo: «Nunca mais o vi depois desse episódio», escrevia Max Gordon em 1980.

Uma estória semelhante foi protagonizada por Miles Davis, músico que Max Gordon recorda como sendo o «mais difícil de lidar» de todos os músicos de jazz que tocaram no Vanguard: «O que é que se faz numa noite de Sábado quando o clube está cheio e a estrela do espectáculo abandona o palco a meio do concerto porque a sua namorada está embriagada numa espelunca qualquer e lhe telefona a pedir para a ir buscar?». De Charles Mingus, outro vulto do jazz, Gordon reteve a memória de um concerto em que o contrabaixista "aplicou" um soco no estômago de Jimmy Knepper, em pleno palco, só porque o trombonista não estava a tocar o tema como ele tinha escrito... ou do dia em que Mingus arrancou a porta do clube porque no cartaz do exterior faltava a menção «Jazz Workshop» na designação do grupo e o seu nome constava como Charlie e não como Charles.

Jazz gravado ao vivo

Foi o jazz que deu ao Village Vanguard a fama internacional de que goza actualmente, muito especialmente os inúmeros discos que aí foram gravados pelos melhores e mais reputados jazzmen, registos que foram e são autênticos embaixadores do clube um pouco por todo o mundo. Nada menos do que 105 ao todo até à presente data... através dos quais mesmo os mais remotos melómanos do jazz, que nunca tiveram oportunidade de ir a NYC, acabaram por entrar no clube e ter, pelo menos, uma memória musical deste espaço.

Mas mais do que embaixadores do Village Vanguard, alguns destes discos são também verdadeiros embaixadores do jazz, constituindo obras primas. A primeira gravação coube a Sonny Rollins, editada em 1957 com o título «A Night At The Village Vanguard»,

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a que se seguiram outros registos de excelência, com destaque para «Sunday at the Village Vanguard» e «Waltz for Debby», de Bill Evans,

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«In Person», de Bobby Timmons,

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«Live at the Village Vanguard» e «Live at the Village Vanguard Again», de John Coltrane,

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«Thursday Night at the Village Vanguard», de Art Pepper e «The State of the Tenor», de Joe Henderson.

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E se os maiores recordistas de gravações no Vanguard são Bill Evans (8), Pepper (4) e Kenny Burrell (4), a verdade é que praticamente todos os grandes nomes do jazz encontraram neste clube o palco ideal para os seus registos ao vivo, incluindo, entre muitos outros, Art Blakey & The Jazz Messengers, Betty Carter, Cannonball Adderley, Thad Jones & Mel Lewis, Dizzy Gillespie, Keith Jarrett, Elvin Jones, Hank Jones, Woody Shaw, Phil Woods, Mal Waldron, Tommy Flanagan, Bobby Hutcherson, J.J. Johnson, Dexter Gordon, Joe Lovano, McCoy Tyner e, mais recentemente, Benny Green, Brad Mehldau, Wynton Marsalis e Jason Moran.

Que outro clube que não o Vanguard pode, ou poderá, um dia rivalizar em qualidade e quantidade com esta impressionante antologia/quintessência do jazz?

Village VanguardNYC, 178-7th Avenue South
Concertos às 21h00 e 23h00
Preço médio: 30,00 USD
Endereço URL: http://www.villagevanguard.net/

João Moreira dos Santos

[artigo publicado originalmente na «All Jazz» n. 10]


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